20 de fev. de 2010

Apelos da mãe Terra.


Lendo o jornal deparei-me com um artigo do Leonardo Boff, compartilho com vocês.

PT: qual a grande transformação?

Não sou membro do PT, mas cidadão que se interessa pelos destinos do nosso País, nos últimos sete anos moldados pelo governo Lula.

A campanha eleitoral se iniciará oficialmente dentro de pouco. Há o grande risco de que predomine um espírito menor, diria quase infantil, de uma campanha plebiscitária entre os feitos do governo de FHC e daquele de Lula. Seria a disputa tola entre o ontem e o anteontem ou entre o atrasado e o velho, como preferem alguns ecologistas. Pois ambos os contendores, na relação desenvolvimento e natureza, manejam o mesmo paradigma, sob severa crítica mundial, por conter o veneno que nos pode matar. Isso só serviria para distrair os eleitores dos verdadeiros problemas que o Brasil e o mundo irão enfrentar.

Uma disputa eleitoral séria, à altura da fase planetária da humanidade e da importância fundamental do Brasil dentro dela, não deveria estar voltada para o passado a ser continuado, mas, sim, para o futuro a ser construído coletivamente. Quem apresenta o melhor projeto de Brasil para o nosso povo e em sua relação para com a nascente sociedade mundial? Que contribuição essencial podemos dar face aos cenários dramáticos que se desenham no horizonte?

Permito-me apresentar três sugestões para animar a discussão interna do PT. O lema do encontro nacional – A grande transformação – nos remete Karl Polanyi com o clássico livro do mesmo título (1944) no qual mostra como a sociedade virou uma sociedade de mercado, transformando tudo em mercadoria. Não será essa a grande transformação pensada pelo PT. Para que seja outra coisa, o partido deve assumir seriamente este fato irrecusável: a Terra mudou porque já estamos dentro do aquecimento global. A roda não pode mais ser parada, apenas diminuir-lhe a velocidade. Se o termômetro da Terra subir para mais de dois graus Celsius, nos próximos decênios, como previsto pelos melhores centros de pesquisa, enfrentaremos no Brasil e no mundo a tribulação da desolação. Muitos projetos já concluídos do PAC poderão ser anulados. Não incluir em todos os planejamentos este dado é mostrar falta de inteligência prática e irresponsabilidade histórica. Do contrário, teremos que aceitar a maldição de nossos filhos e netos.

Outro dado não menos perturbador é a insustentabilidade do sistema Terra. A partir de 23 de setembro de 2008, ficamos sabendo que o planeta Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de repor os bens e serviços necessários para a vida. Estamos consumindo hoje o que precisaremos amanhã. Se quisermos universalizar o nível de consumo das classes médias mundiais, incluídos os 80 milhões de brasileiros, precisaríamos já agora de três Terras iguais a esta. Este modelo de crescimento, como parece subjacente ao PAC, mostra a sua inviabilidade a médio e a longo prazos. Não é que devamos deixar de produzir. Devemos produzir, mas dentro de um outro paradigma menos depredador do sistema Terra, com um acordo de respeito à suportabilidade de cada ecossistema e com uma ampla inclusão social, imbuídos todos de uma ética do cuidado, da responsabilidade universal e da busca do bem viver para todos.

Por fim, o PT precisa conscientizar o fato de que o Brasil é, seguramente, o país-chave para o equilíbrio do planeta. Ele é a potência das águas, o detentor das maiores florestas, as grandes sequestradoras de dióxido de carbono e reguladoras dos climas, com imensa biodiversidade e vastas terras agricultáveis, podendo ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro, com capacidade incomparável de gerar energias alternativas e com um povo altamente criativo, que fez um ensaio civilizatório dos mais significativos, não imperialista, e com uma visão encantada do mundo que lhe permite, no meio das contradições, celebrar suas festas, torcer por seus times e dançar seus carnavais, características essas decisivas para conferir um rosto humano à mundialização em curso.

O futuro passa por nós. Não percebê-lo por ignorância ou distração é não escutar os apelos da mãe Terra e é defraudar seus filhos, nossos irmãos que apenas pedem singelamente para viver com decência.


*Teólogo, professor e membro da Comissão da Carta da Terra

9 comentários:

Unknown disse...

Este tema é muito importante mas a maioria das pessoas ainda não despertaram para a gravidade desta situação.
Este ano as consequências do desrespeito pela Natureza deram sinais na Itália com aquela montanha que desceu sobre as casas da cidade. Hoje na Ilha da madeira.
Há uns meses atrás foi aí no Brasil com tantas inundações.
Que mais virá a seguir???
É necessário acordar e começar a respeitar as nossas florestas.

Unknown disse...

A terra é insultada e oferece as flores como resposta ...

Beijos.

Jeferson Cardoso disse...

Olá! Não tomarei muito de seu tempo. Encontrei-o ao adentrar a lista de seguidores do “Palavras de Osho” (blog com o qual tenho me identificado). E visto o ecletismo dos seguidores deste blog, decidi divulgar o meu atual trabalho, que se trata de meu primeiro microconto “O Aparelho Digestório”. Caso se interesse e me visite, será um imenso prazer retornar a esta casa com mais tempo, atenção e calma.

Forte abraço de Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com de blog em blog
divulgando e dando o recado!

Graça Pereira disse...

Nós " brincamos"... e brincamos com coisas muito sérias. A Natureza mostra os seus sinais e em diversos pontos da terra...ontem , na nossa Madeira... e, ainda assim, a consciência do homem não fica desperta...
Os Deuses guardam segredos e Deus não tem senão mistérios que é preciso respeitar: a vida ( nossa e do planeta) o Amor e a Paz. Temos tudo para sermos felizes.. e o que fazemos?
Gostei do teu post. Parabens!
Graça

Amélia Ribeiro disse...

Gostei bastante do teu blog...

Voltarei mais vezes...

Um beijo de Portugal.

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Cara amiga.

Perfeitas as colocações do grande teólogo.
Penso que o que mais nos aflige,
é a falta de vontade de discutir a vida, o respeito ao planeta e a natureza.
E o que me deixa triste é que esta campanha,
não terá este tema como prioridade.

Uma semana de paz para ti.

Denise Portes disse...

Lindo seu blog, gostaria que você fosse conhecer o meu www.odeliriodabruxa.blogspot.com
Um beijo
Denise

Unknown disse...

Amigos são como o vento...ás vezes perto, outras vezes longe + eternos em nossos coracões!!!
Amigos são que nem o sol... não precisam aparecer todos os dias para sabermos que eles existem!!!
Bjs da Priscila e do Trajano!!!

Anônimo disse...

Olá professora, somos as alunas Maiara Bizari e Franciéle de Souza da escola Jorge Lacerda do 2º ano 2. Achamos muito bonito o objetivo que o Valdo levou e queria levar para as pessoas que é a paz interior. Seu objetivo era fazer viajens em cima de uma bicicleta até 2013, vimos no vídeo que a bicicleta era bem equipada e que sua alimentação era o básico como pão, cereais, frutas e enlatados. Ele morou durante algum tempo em outros países. Ele tinha seus 65 anos e gostaria de pedalar até os 70. Disse que a vida não acaba com seus 60 anos e sim que é mais uma etapa de nossas vidas e recomenda fazer exercícios físicos que é muito bom para a mente.
Concluímos que o Valdo é um exemplo de vida que deve ser passado a diante.